Chore, Melhor Ainda Se implorar - Novel - Capítulo 154

✧ Capítulo 154 ✧

✧ História Paralela 2 ✧

*.·:·.✧.·:·.*  

Os funcionários da família Herhardt, sob a direção de seu mordomo Hessen, formaram uma fila em frente ao seu opulento vagão assim que o trem da capital chegou à estação de Carlsbar. As pessoas que assistiam lançaram olhares confusos quando as portas do trem se abriram e o jovem patriarca da família Herhardt, a duquesa e seu filho saíram. 

— Bom dia, meu senhor. — Hessen, como sempre, cumprimentou seu mestre com a maior deferência e cortesia, assim como os demais funcionários, que abaixaram a cabeça, como de costume. Leyla inconscientemente agarrou o braço de Matthias com força como resultado de seu desconforto com a atenção a que não estava acostumada. As pessoas lotaram a plataforma em frente ao opulento veículo como abelhas ao redor de sua rainha, todas esperando dar uma espiada na ação.

Matthias não disse nada ao receber as boas-vindas graciosas, ao lado de Leyla, que respirava fundo para se acalmar. Ele dava a imaculada e controlada impressão de aristocrata que os moradores de Carlsbar passaram a antecipar ao parecer à vontade e despreocupado com a presença de observadores.

Enquanto os espectadores ficavam boquiabertos, Matthias avançou com confiança. Sua atitude indiferente em relação à multidão tornou seu ato de acompanhar sua esposa ainda mais marcante e atraente. 

Os espectadores naturalmente recuaram para abrir caminho para eles passarem. Eles não podiam ver nenhum sinal de escândalo ou relacionamento falho no comportamento do casal. A duquesa, Leyla von Herhardt, estava elegantemente vestida com um vestido de verão azul esvoaçante e parecia uma jovem de sua idade, assim como a adorável filha de Arvis, Leyla Remmer, que foi criada pelo jardineiro da família.

Olhares curiosos da multidão foram direcionados para o pequeno Duque nos braços da babá enquanto ela seguia a Duquesa. Os olhos azuis da criança brilharam por toda parte, brilhando de alegria, roubando a atenção da multidão. Esta ocasião parecia pôr fim a quaisquer rumores de que o duque havia prejudicado a reputação da família por ter um filho com uma mulher de classe baixa e levantar questões sobre a paternidade da criança.

Felix von Herhardt acenou com entusiasmo para o público, fazendo-os sorrir quando ele desceu da plataforma. — Carlsbar entrou oficialmente no verão —, alguém na multidão sussurrou.

Várias vozes responderam em uníssono como um coro: — Sim, entrou.

A família Herhardt, ilustres cidadãos da cidade do norte, retornaria durante este verão, como uma magnífica obra de arte sendo inaugurada.

*.·:·.✧.·:·.*

— Você se lembra do presente que me prometeu? — Leyla, que estava absorta em olhar pela janela do carro, virou a cabeça e perguntou de repente. Matthias respondeu com uma pequena inclinação de cabeça, não havia necessidade de eles trocarem mais olhares, pois ele manteve um olhar fixo em sua esposa o tempo todo como um girassol direcionado ao sol.

— Vamos fazer um piquenique no fim de semana, nós três juntos, — ela o lembrou do plano prometido.

O olhar de Leyla ficou mais intenso enquanto Matthias continuava em silêncio. Matthias parecia residir em seus olhos esmeralda naquele momento, que pareciam um pouco mais escuros e profundos do que o normal.

Leyla anunciou, seu entusiasmo e prazer por suas excelentes notas audíveis em sua voz: — Há um presente que eu gostaria de ganhar. — Ela sorriu amplamente e disse: — Quero fazer um piquenique, nós três, na Floresta de Arvis.

— Vou levá-lo para ver os campos de flores desta vez, — disse Leyla, enfatizando a palavra ‘desta vez’ para transmitir um significado mais profundo. — Arvis também tem muitas flores lindas no verão —, ela acrescentou com um sorriso, e Matthias concordou com a cabeça.

— Leyla, você sabe o que suas palavras significam para mim? Elas me asseguram que aqueles dias felizes não foram apenas um sonho ou uma decepção. 

A expressão de Leyla ficou séria, — Não finja que não sabe, — ela disse, estudando seu rosto de perto. — Não me provoque, — ​​ela acrescentou com uma pitada de descrença.

Ela falou com confiança e sua voz carregava a mesma firmeza de quando ela repreendeu Felix. Ao contrário de seu filho, seu pai simplesmente riu sem vergonha, deixando Leyla se sentindo oca como um poço sem água.

— Leyla, eu me lembro, eu me lembro. — Sua voz melodiosa fez os lábios de Leyla tremerem. — Cada elemento de você, cada centímetro de você.

Seus olhos eram silenciosos e profundos; ele não estava mais radiante. Leyla ocasionalmente experimentava desespero quando o ouvia dizer isso de uma maneira fria e contida. 

— Estou ciente de seu sarcasmo constante. — Leyla falava mais alto do que até então.

Matthias respondeu magistralmente, mantendo Leyla em seu olhar. — Tem certeza? — Ele fixou Leyla com um olhar que parecia retratar sua vontade de não ser cativado por ela. Leyla, porém, foi quem mais uma vez evitou o contato visual. Apesar de o fato de essas ocorrências terem aumentado ultimamente e serem, ao mesmo tempo, agradáveis ​​e desagradáveis, como os dois polos do ímã, ela não se importava muito com elas.

O carro em que eles estavam entrou na estrada Platanus e se dirigiu para a grande entrada da mansão enquanto ela travava uma guerra para dar sentido aos sentimentos complicados e mal definidos que estava sentindo. Leyla olhou pela janela do carro com uma expressão agradável no rosto, apesar de sua angústia interna, esperando encontrar a resposta no céu azul profundo. 

— Olha, Félix. Não é maravilhoso? — Leyla gentilmente segurou Felix e apontou-o na direção do que ela estava apontando com a mão.

O Plátano. A floresta limpa uma variedade de plantas nebulosas. 

A criança falou animadamente, usando a terminologia que sua mãe lhe ensinou. Leyla, que o ajudava com a pronúncia, riu, e a criança por sua vez riu também. A risada deles fez o verão em Arvis parecer ainda mais bonito, trazendo-o de volta à vida. 

Ouvindo as vozes alegres dos dois, o olhar de Matthias vagou para a estrada onde a bicicleta caída dela durante um verão passado abalou sua vida. As memórias correram de volta. Ele se lembrava vividamente das rodas girando, do farfalhar das folhas ao vento e das batidas de seu coração que o dominaram naquele momento.

Cada parte de sua existência estava saturada pelo desejo de permanecer e desaparecer. E Matthias valorizou esses momentos adoráveis ​​porque eles se tornaram parte de quem ele era agora.

Após sair da estrada Platanus, o carro entrou na propriedade passando pelo portão frontal ornamentado. Na porta da frente da mansão, Norma e a mãe de Matthias, as duas duquesas, esperavam. Quando o automóvel para, a babá de Felix o entrega casualmente a eles.

— Bem-vindo ao lar, Matthias — Norma abriu um largo sorriso e cumprimentou o neto, dizendo: — E você também, Leyla —, continuou ela.

Mesmo quando ela olhou para Leyla, sua expressão era tão gentil como sempre. A recepção foi bem diferente do verão passado. Elysee von Herhardt, que antes não havia feito nenhuma tentativa de esconder seu desdém pela nora, estava exibindo uma atitude relativamente gentil hoje.

Enquanto Leyla se preparava para entrar no salão principal, ela não pôde deixar de olhar para o final da escada, o mesmo local onde uma jovem órfã estava, seu olhar cheio de uma mistura de medo e curiosidade enquanto ela olhava para o jovem duque.

Teria sido inimaginável para a jovem conceber que um dia ascenderia ao posto de Duquesa. O mundo era imprevisível de maneiras bonitas. Se alguém tivesse feito tal afirmação a ela durante sua infância, ela os teria considerado loucos. No entanto, o futuro não conhecia regras. 

Na verdade, ela ainda lutava para aceitar isso. Ela ainda achava que estava sonhando. 

Existir nesta época deslumbrante, como esposa de um homem que só poderia ser seu parceiro em segredo, Leyla von Herhardt, era um conceito incomum e desconcertante. Houve momentos em que ela achou difícil se reconciliar, sentindo como se sua vida não passasse de um sonho fantástico. Foi apenas por meio de Matthias, que serviu constantemente como uma força de base, que ela conseguiu retornar ao senso de realidade.

— Vamos, Leyla.

Ao som de uma voz que era como um farol familiar, Leyla lentamente levantou a cabeça em resposta. Seus sentidos foram intensificados por uma respiração profunda.

Juntos, eles entraram no salão do Duque, Leyla subindo os degraus lenta e cuidadosamente, sua mente ocupada pelos planos que ela tinha para este verão. A grande escadaria de mármore e as deslumbrantes luzes do candelabro ainda mantinham uma presença intimidante para ela.

Ela pensou na ideia de fazer um piquenique com os três, talvez dar um passeio por um caminho ladeado de rosas-silvestres, ou visitar os campos de violetas e os bosques de bétulas no final da estrada, ela acreditava que seria bom para ver o bando de pássaros aquáticos voando sobre o rio Schultter ao pôr do sol.

Mas o lugar onde a vista parece mais pitoresca é na impressionante árvore que cresce ao longo do rio.

No entanto, seria essa uma possibilidade viável para Matthias von Herhardt?

Mesmo sabendo que era um pensamento absurdo, Leyla considerou seriamente.

— Ei, Matthias, — Leyla sussurrou seu nome, e Matthias dirigiu seu olhar para ela. — Você consegue subir em uma árvore? — ela perguntou em voz baixa, consciente da possibilidade de que as duas primeiras duquesas pudessem ouvi-la. As rugas na testa de Matthias, que até então eram suaves, se aprofundaram.

— Posso te ensinar se você não souber —, disse Leyla, com uma cara séria, mesmo que a ideia fosse absurda. — Você quer escalar comigo?

Por achar difícil aceitar o que estava ouvindo naquele momento, Matthias esteve distraído por algum tempo. Os olhos de Leyla estavam fixos nele mesmo naquele exato momento, apenas para obter sua resposta. 

— Eu não estou pressionando você. — Leyla continuou, envergonhada no último minuto. — Vou cumprir seus desejos.

Leyla sentiu como se estivesse afundando cada vez mais na lama enquanto falava, mas não havia como voltar atrás. Os dois finalmente chegaram ao centro do corredor que levava da escada central à área de recepção.

— Farei o que você diz, — Matthias respondeu inesperadamente e abaixou a cabeça cortesmente. A expressão de Leyla era confusa.

— Nunca faça isso! — Gritando silenciosamente, Leyla implorou a Matthias, mas ele não pareceu ouvi-la.

— Minha rainha, — ele disse baixinho em seu ouvido, fazendo-a corar de vergonha. Matthias continuou girando casualmente apesar de seu claro desdém, uma carranca gravada em suas feições. Foi uma circunstância estranha.

Leyla finalmente caiu na gargalhada, o que apenas confirmou as suspeitas de Norma e Elysee. Eles se viraram para olhar para ela, e Leyla logo percebeu por que seus olhos estavam fixos apenas nela. O duque Matthias von Herhardt, que havia mudado rapidamente de expressão, ergueu-se e olhou para ela como se não entendesse por que sua esposa estava rindo.

— Felix, sua mãe parece estar de ótimo humor hoje —, disse Elysee, virando-se para o neto em seus braços e optando por comentar em vez de repreender. Leyla não sabia explicar o motivo de sua risada, mas não parecia justo rir sozinha.

Matthias sorriu indiferente novamente quando seus olhos encontraram o olhar de Leyla. Ela teve que resistir à vontade de gritar e deixar todos saberem o verdadeiro motivo de sua risada. Ela apertou ainda mais o braço do marido atrevido. Ela queria dizer ao mundo que era ele, seu Matthias, o objeto de sua felicidade. Era ele quem a fazia rir, era ele quem a fazia feliz, mas ela preferiu o silêncio habitual à avalanche de palavras. 

No entanto, seria um verão muito longo.

*.·:·.✧.·:·.*

Tradução: Eris

Revisão: Nana